segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Retrato de artista enquanto coisa

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que
olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde, que
vai lá fora, que
aponta lápis, que
vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

-Manoel de Barros-

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Dispersão

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(trecho de Dispersão, de Mário de Sá-Carneiro)