domingo, 16 de fevereiro de 2014

NA SALA DE ESPERA

Preenchendo ficha na sala de espera do consultório: nome, endereço, profissão, profissão... caramba, o que dizer... “aposentada”? É isso?
― Ué, mas você não se aposentou?
― Sim, me aposentei, mas colocar assim de chofre, logo no primeiro dia sem trabalho, status: “aposentada”, isso não é profissão! Além do mais, agora me ocupo com muitas outras coisas.
Por um momento pensei em escrever “incontáveis atividades”... eu sei, eu sei, um pouco pretensioso de minha parte, admito, mas talvez mais condizente com a realidade de alguém que deixou seu exercício profissional e partiu rumo às realizações há tanto tempo desejadas...
Meus olhos fixos na ficha se perdem nas palavras ali escritas. O texto vai se distanciando lentamente, e o que eram letras agora são pequenos pontos no papel. Ouço uma voz que ressoa em meus ouvidos como um sussurro...
Quais são seus desejos, Terê? Você ainda constrói labirintos, aqueles em que você sobe e desce escadas, você ainda dança a música dos ciganos, lembra?, você dançava, tocava pandeiro. Era a sua libertinagem, meine lieber, você corria, dançava e tocava. Nas águas em que mergulhava, encontrava baús repletos de tesouros preciosos, com incontáveis colares de pérolas brancas e negras. Enterradas na areia, você buscava garrafas de bom vinho prontas para vertê-las em minha boca seca, trazendo-me tanta satisfação.
Quais são seus desejos agora, Terê? O limiar de um prazer, braços e pernas, trocas de carícias, apertos, delírios, mordidas, calores, arrepios, gozos, entranhas, línguas ― minha língua em seu corpo, você adora ―, gemidos, palavrões, entradas, pentelhos, fugas, risos, contrações, lágrimas, prazer, gritos, cabelos, nucas, seios, lençóis, o ar... a sublimação... o espaço... o ato... o céu... a dança, dança, dança, a água... o tesouro... a satisfação... uursshhh...
― A senhora já terminou de preencher a ficha?
― Como? Ah, sim! Fecho as pernas e olho firme para a ficha que apresenta um questionário cujas letras ― FONTE ARIAL BLACK ― imprimiam muita força de expressão.
Pensei mais um pouco e finalmente resolvi colocar uma ocupação. Melhor assim... acho.
― Pronto, terminei.
Profissão: eterna gozadora.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

COTIDIANO

 Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
(Chico Buarque, in “Cotidiano”) 

Em minha tela de 15 polegadas, o mundo se exibe. Morte, desabamento, trânsito, calor insuportável. Minha tela é a boca do inferno. Estou no Centro de São Paulo, na minha sala de trabalho. Dezessete pessoas em suas respectivas baias. Meu computador tem dois monitores. Um fundo de tela que é um quadro do Millôr. Genial esse desenho: o homem com seu cachorro. Vez ou outra olhares de esguelha buscam captar movimentos. Não estou nem aí. Uma parada para almoço. Todos na rua, firmo o caminho de sempre. Escolho o trivial: salada, peixe, arroz integral e pastel. Preciso eliminar a fritura.
 
Já te falei que morro de medo de dormir. É sério! Sempre acho que vou morrer dormindo. Que terei um enfarto tão fulminante que nem chego a acordar. E se tiver um AVC? Que horror.

Sinto dor de cabeça. Sempre. Isso aumenta meu receio de ir para a cama. Preciso com certeza eliminar o pastel de queijo de meu cardápio.

Retorno sem pressa. Passo pelo café, tomo um expresso. Lá eles servem um pequeno chocolate para acompanhar. Com a gripe, prejudicada a apreciação daquela bebida. Vamos ao mérito.

Doem meus ombros, minhas costas. Tenho inalação para fazer. Vou deixar para depois.

Retorno à minha sala. Todos com ar de concentração. Não estou nem aí. O único ar que me incomoda é o ar condicionado. Há ares do bem, outros do mal. Esse certamente é do mal. Esfria minha cabeça, ataca a sinusite, que meu médico afirma ser crônica. Crônica é o que escrevo.

A gripe associada com a dor de cabeça é tiro na testa, ou melhor, em um dos lados de minha cabeça, geralmente a esquerda. Minha dor é de esquerda. Caramba, como dói! Tenho certeza que a culpa é do pastel.

Abro arquivos, recomponho seus textos, organizo o material. Reviso as notas, entro na minha conta do banco só isso? , acerto o que tem para acertar, falo ao telefone, são dúvidas de pauta, agora ligação de casa tá certo, pode fazer , envio comandos de impressão, limpo a caixa de entrada, mando tudo para a lixeira: subpastas, arquivos mortos, gente ferida, sentimentos frívolos, risadas debochadas, cara feia e fechada, papel de bala, fracassos, courier new corpo 10, a fila que não anda, cafezinho com leite, suspiros e gemidos. Faço tudo isso quase que automaticamente, mas acontece que existe o “quase” e sempre o “quase” faz a diferença e, neste caso, uma grande diferença.

Quase levanto e vou ao toalete, quase escovo meus dentes, quase olho para o espelho pensando que preciso cuidar melhor de minha pele, quase olho pela janela o corredor tomado de ônibus parados, e quase penso no sufoco do pessoal que está parado nesse congestionamento. E, finalmente, quando quase retorno junto ao meu computador, quase tenho absoluta certeza de que o maldito pastel de queijo não é mesmo uma boa pedida.

No mais, tudo bem, graças a Deus, vamos levando.

AMORES


Tenho vários amores. Bem, sim, vários, não, alguns, vai. São reais, mas permeiam meus devaneios de mulher, em certos momentos. Por vezes, caminhando pelas ruas do Centro, me pego sorrindo, por lembrar do que com eles passei. Amores diferentes entre si, tão lindos. Vieram eles de todas as direções!

O que veio das águas é na verdade um boto danado que me cobre de amores quando me vê. Se declara apaixonado, e por ser um boto cor de rosa, rendo-me a seus encantos seduzida por suas histórias de amor... Quantas prosas foram em uma noite apenas: falou-me do rio e de seus perigos, do mar e dos que lá habitam e das embarcações. Ai... Seu amor não me dará fruto, apenas a doce lembrança da calmaria que sucede após a tempestade.

O que veio da terra, juízo não lhe falta. Seus sonhos não vão muito além daquilo que construiu. Já montou um castelo bonito, que se desmoronou e lhe abateu. Hoje, é meu touro valente, que carrega um coração marcado pelas dores que o mundo lhe deu. Ai... como amo esse homem que me busca nas nuvens e me traz ao chão. Sussura em meu ouvido que vai me guiar e eu fecho os olhos com vontade de dizer: não, querido, só me leve a sonhar.

O que veio do fogo cospe labareda e se exalta sem razão. Esse dragão furioso parece criança contrariada que ficou de castigo por xingar uma tia. Estou para ver moleque mais terrível que esse! Reclama por estar ficando velho. Como pode? Nem adolesceu ainda...

O que veio do ar tem o dom da palavra. Um jeito manso, de contar causo, damos tanta risada... Sua vida é palco que recebeu dramas e comédias. Para ele, a vida continua a lhe oferecer tantas outras histórias, mas não sabe bem dizer se são para rir ou para chorar. Tanto faz. Com ele, minha alma se inunda de alegria e prazer.

Há, por fim, o que veio das estrelas. Mas não de uma estrelinha qualquer. Para falar a verdade, acho que ele veio mesmo é no rabo de um foguete, voando, para, num piscar de olhos, me amar e depois me sequestrar. Juntos, visitamos o universo colorido das emoções tão intensas, vibrantes, e quando estamos lá em cima, acenamos para a Terra que ficou para trás. Com ele, reconheço, é difícil pôr os pés no chão. É tão bom estar com ele, mas não.

Os amores de minha vida em minha imaginação sempre foram bem reais. Às vezes, na querência de ficar juntinho, vou buscá-los nas ondas do mar, no barulho das águas, nos moinhos de vento, nas labaredas da fogueira em noites frias de junho e nas estrelas cadentes que eu já vi olhando para o céu numa madrugada linda no interior de São Paulo quando tinha treze anos.

Lá estão eles, nas trilhas do meu coração.

domingo, 23 de dezembro de 2012

RETROSPECTIVA MUSICAL


Final de dezembro, relembro o que de bom aconteceu neste ano na área de música para mim. Tive o prazer de assistir a shows incríveis. Alguns que ficaram na minha memória:
Orquestra Tipica Fernandez Fierro. Demais a performance do grupo no palco, foi diversão certa.
Matei a saudade com a apresentação de Celso Viáfora, suas canções sempre tão lindas.
Que prazer ver Zelia Duncan e Arthur Nestrovski no Sesc Pompeia. Ela, de fato, se supera em cada apresentação.

Que dizer de Leny Andrade então? Ela brinca com a voz, brinca com os músicos, tão à vontade no palco.
Um show carregado de emoção, Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro. Não preciso dizer mais nada, né?
Assisti a dois shows do Guinga. A primeira com o Quinteto Villa-Lobos e que contou com a participação da Mônica Salmaso. Cada vez que ouço a Mônica, percebo que ela está cada vez melhor. Outra, foi uma apresentação que ele dividiu com a Maria João.
Também um prazer enorme foi assistir a um show chamado “Guitarras Históricas”, com a participação de Hélio Delmiro, Heraldo do Monte, Olmir Stocker, o Alemão, e o Zezo Ribeiro. Caramba, me emocionei.
Com André Mehmari, foram alguns espetáculos: o primeiro deles com vários artistas convidados, num show de lançamento do CD “Canteiro”, no Sesc Pompeia. No Auditório Ibirapuera, fui vê-lo com a Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba, coisa linda de morrer. Mais no final do ano, fui ver o show de lançamento do CD “Triz”, gravado com Sérgio Santos e Chico Pinheiro.
E Raul de Souza? Hehe... ele e nosso querido Nailor Proveta. Eta show arretado!
E por falar em trombonista, fui ver também o Bocato, juntamente com Daniel Amorim, Vera Figueiredo e Caito Marcondes, em show da série “Encontros Musicais” no espaço cultural B_arco.
Amilton Godoy e Gabriel Grossi, lançando um CD só de Villa-Lobos. Parabéns aos dois. Bonito trabalho.
Ah! Nelson da Rabeca e Thomas Roher! Contavam com as participações de Dona Benedita (voz) e de Antonio Panda Gianfratti, na percussão. Meu coração feliz, saiu batendo no ritmo das canções.
Aliás, Hans Koch (clarone), Antonio Panda Gianfratti (percussão) e Thomas Rohrer (rabeca e saxofones) se apresentaram em um encontro de improvisadores no Sesc Belenzinho, junto com Marcio Mattos (violoncelo), Rodrigo Montoya (violão e shamisen) e Luiz Gubeissi (contrabaixo acústico). Só feras nesse encontro intercontinental.
Vi também Toninho Horta no Auditório Ibirapuera, com a Jazz Sinfônica. Sem comentários. Adoro Toninho Horta.
Infelizmente Gilberto Gil estava um pouco afônico, teve muita dificuldade em cantar, quando fui vê-lo no show que realizou no Teatro Alfa. Pena.
Um espetáculo muito bem dirigido foi o de Fernando Salem, em “Creme na Pele do Samba” e que contou com a participação de André Abujamra e da violoncelista Patricia Ribeiro.
Tive a felicidade de ver Dianne Reeves cantar. Foi uma noite marcante.
Agora, emoção mesmo foi ver Milton Nascimento, Ponto de Partida e os Meninos de Araçuaí em “Ser Minas tão Gerais”. Difícil conter as lágrimas.
Na Mostra Tom Jobim, fui ver Cesar Camargo Mariano, acompanhado por Sizão Machado (baixo) e Thiago Rabello (bateria). A outra atração desse show foi a cubana Yusa, multi-instrumentista, cantora incrível.
Mawaca, assisti em novembro. O grupo lançou o CD “Ikebanas Musicais”, trabalho inspirado em haicais sobre as estações do ano.

Ainda, nesse mês, fui ver também Renato Bráz, com o Quarteto Maogani, que contou com a brilhante participação do violonista peruano Sergio Valdeos. Houve momento no espetáculo que a emoção tomou conta de todos nós, público e artistas... ai, olhos rasos d'água!
Na dança, a Companhia Quasar nos regalou com um espetáculo instigante, coreografado por Henrique Rodovalho, chamado “Céu na Boca”. Maravilhoso!
Bem, não poderia deixar aqui de falar do Coral Cultura Inglesa, do qual faço parte! Foram várias apresentações, na Capital e no Interior do Estado, com um repertório requintado, feito especialmente para comemorar os trinta anos de atividades. O Coral também gravou um CD com esse repertório. Foi um árduo trabalho, feito nos finais de semana, mas valeu a pena. E, encerrando o ano, apresentamos no Memorial da América Latina, “Viagem ao Centro da Terra”, de Rick Wakeman, com a Banda Sinfônica Jovem do Estado. Foi demais!
Hehe... esses foram apenas alguns dos bons momentos musicais pelos quais vivi em 2012!
E que venga 2013 com muito mais!!!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O DITO PELO NÃO DITO


Primeiros minutos de sexta. Pensei em escrever durante o dia todo que passou, mas esqueci agora o que queria dizer. Vi transeuntes, senti calor, uma maldita corrente de ar frio que foge do aparelho de ar condicionado atinge minha cabeça e meu braço direito. Tenho frio de um lado só. Meu outro lado mantém a temperatura de meu corpo naquele ambiente laboral. Odeio esquecer o queria escrever, são tantos assuntos, quando venho para cá, esqueço tudo. Ele não ligou hoje, nem vai ligar nunca. Ele não liga para você, não liga para ninguém. Nem para ele mesmo. Também, pensando aqui comigo, ligar para quê? Para dizer oi?
− Oi!
− Oi...
− Tudo bem?
− Tudo...
− O que está fazendo agora?
− Dizendo “oi”.
− Ah, eu também. Gosto de dizer “oi” e você?
− Eu também. Digo “oi” sempre.
− Hehe... Eu sempre digo “oi”.
− Mesmo? Às vezes eu digo “olá”.
− Nossa, e não acontece nada com você?
− Geralmente, não. Mas tem gente que responde com um “oi”.
− Tome cuidado com esses: no fundo, eles queriam ter dito “olá”. Eles não são como nós.
− São meio abusados mesmos. Ah, olha só quem chegou... Oi!
− Oi!
− Oi!
− Oi.
− Tudo bem com vocês?
− Tudo.
− Viram quem estava aqui há pouco?
− Sim, dissemos “oi” para ele, mas nem respondeu.
− Afff, ele tem dado muito “olá” por aí, liga não.
− Problema dele.
− Oi?
− Eu disse problema dele!
− Oi?
− Ficou surdo?
− Oi?
− Ihhh... síndrome do sapo-boi... oi... oi...
− Bora?
− Oi?
− Bora?
− Oi?
− Ah, fui!
− Quem foi?
− Oi?
− Boi?
− Oi?
(eles se dispersam sem nada dizer...)

domingo, 4 de março de 2012

As "puembas" de lá

- O que têm elas?
- Ah, são diferentes... Orgulhosas, empinadas, vão chegando, não pedem, não, você tem que dar... uma migalha de seu pão, você arranca um pedacinho e joga para elas.
- E qual a diferença, sô?
- São mal agradecidas. Pegam e vão embora. Nem te agradecem.
- As daqui são iguaizinhas, fazem a mesma coisa.
- Não, são diferentes. As italianas estufam o peito pra você. Uma delas pousou na mesa em que estávamos, pensei até que ia cantar uma área de ópera...
- Ôxe...
- Mas ela só ficou girando, girando e saiu... Tenho uma teoria...
- Ihhhh...
- Essas pombas têm um futuro triste e pungente.
- Nossa e qual é?
- Elas viram patê de foie gras.
- Cê viajou...
- Juro!
- Quem vai notar a diferença? Matam as bichinhas, arrancam os "figo" e fazem o famoso patê de foie gras, só que "du colombe".
- Ah, tá bom...
- Quem vai notar???
-  Hum...
- Quando visitei o Castelo de Sant'Angelo, em Roma, veio até a mim um pássaro que me contou um pouco sobre a máfia das pombas na Itália.
- E sobre o patê de foie gras "du colombe".
- Claro! Você não acredita? Olha ele em cima do muro...
- Rsrsrsrs... com certeza esse não é um tucano!



- Ele me disse, discretamente - na verdade estava mesmo receoso, olhava o tempo todo para as laterais -, que havia uma máfia de compra e venda de fígado de pombos italianos, que valiam muito, pois os pombos de lá são bem nutridos. Afinal, milhares de turistas jogam migalhas de comida a esses bichos, assim como jogam milhões em moedas na Fontana di Trevi, deixando-os excessivamente obesos.
- Tadinhos...
- Ganham uma fortuna com a matança! Mas ninguém sabe dessa história... No final de nossa conversa, prometi sigilo, claro,  por isso não direi o nome de nosso amigo aqui da foto.
- Ah, sim, nem irei insistir. Mas me diga: você percebeu alguma coisa depois desse episódio?
- O quê? Em Veneza, fomos perseguidos! Bando de pássaros atrás da gente! Parecia o filme do Hitchcock...
- Que exagero...
- Ah, é? Olhe só... Os olheiros ficam em pontos estratégicos: nas estacas de madeira, estátuas, praças, enfim, pontos onde possam dar alguma coordenada. Foi o que aconteceu com a gente...




- Pássaros com olhares estranhos, matreiros, desconfiados, verdadeiros lobos do mar, sim, piratas venezianos... Dão o sinal assim que percebem o perigo.
- Que perigo? Quem? Vocês!?
- Quem mais? Sabíamos de toda história! E mais: como foi que surgiu o professor chinês de italiano nessa viagem? Do nada?
- Acho que sim... vocês precisavam de um professor, disseram que iam participar da maratona dos decrépitos em coordenação motora...
- Haha... Gracinha...
- Ele está envolvido nessa história da máfia também!
- Olha, eu não estou entendendo mais nada. Mas vocês foram atacados pelos pássaros hitchcockianos ou não?
- Sim e não. Olhe só:


- Entramos correndo no vaporetto, eles saíram atrás de nós gritando: o nome! Diga o nome! O nome!
Fingi não ouvir, fiquei apreciando a cidade. Estávamos, na verdade, um pouco assustados.
Os pássaros numa algazarra terrível nos perseguiram por um tempo quando de repente desapareceram. Então descobrimos a razão: vimos nosso professor chinês de italiano aos berros espantandos as aves!
- Nossa! O que ele dizia?
- Como vou saber? Mas um italiano que estava ao meu lado comentou estar ouvindo algo parecido com um dialeto siciliano, porém com os "erres" trocados por "eles". Ele achou uma pronúncia muito estranha...


- E o que é isso?
- Como o que é isso? O carregamento, pombas! Ops... Só pode ser o carregamento de foie gras "du colombe". Aquele de blusão vermelho é o nosso professor chinês de italiano, que espantou os pássaros para eles não ficarem traumatizados.
- Ah, que história besta! Vou dormir!
- Espere, você não quer saber o final da história?
- Não!!!
- Puxa...


Em tempo:
Bons shows no Auditório Ibirapuera: Orquestra Tipica Fernandez Fierro - os músicos e cantor são ótimos, há uma preocupação cênica na interpretação das canções, eles são divertidos, parecem saídos de uma história em quadrinhos. Gostei muito! E, neste último sábado, Celso Viáfora, com o Coral Expresso 25. O Celso é um compositor de grande sensibilidade, tenho grande admiração por ele. Queria tê-lo ouvido mais...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Registros de viagem

(Ao Marco, à Aline e ao Marinho)
Olá, vocês tanto pediram que vou-lhes contar um pouco de minhas andanças pela República italiana e pelo Reino de Espanha no final do ano passado e início deste.
Tudo bem, pessoal, não foram vários, na verdade, foi um pedido só, mas mesmo assim faço questão de atender!
Humm...
Ok...
Ninguém me pediu, tá? Mas vou contar assim mesmo.
Tô aqui ouvindo e me inspirando com Fuga y Misterio de Astor Piazzola e sinceramente não sei se escrevo ou ouço a música. Êh, Michel Camilo! Comprei esse CD na Fnac de Madri (ou foi na lojinha da Augusta?). Adorei! Ai ai.

A Itália

Era uma dia da semana. Final de ano. A viagem teria uma parada em Madri. Destino, Roma.
 Uma mala mediana e o táxi nos levou ao aeroporto.
Tarde ensolarada, faltavam algumas horas para embarque.
 Gente conhecida no pedaço: também nesse voo? Sim, vou para Espanha, blá, blá, blá...
Pensava na injeção que ia tomar: nossa, dolorida! Tomei, que jeito.
- Mister M, você providenciou nosso professor de italiano?
- Sim, um chinês que mora lá já há algum tempo.
- Bom, nossos negócios dependem da intelecção e de nossa desenvoltura na língua.
- No problemo, Miss T.
Ainda bem. Afinal, estávamos inscritos na maratona dos ambulantes dissonantes das terras tropicais e não podíamos perder a oportunidade de discutirmos a questão do uso da grande-angular no cinema basco.
Chegamos de madrugada no aeroporto Madrid-Barajas. Ninguém nos esperava no aeroporto.


Aliás, não havia ninguém nesse aeroporto. Coitado do meu papagaio, sem poder utilizar seus dotes poliglóticos, coloquei-o de volta no saco.
Ele ficou brigando com o violão.
Partimos novamente. Pra onde? Pra onde? Gritava o louro dentro do saco.
Entramos em outra aeronave (?), agora rumo a Roma, cujo rato roeu a roupa do rei.
Vieram os primeiros raios de sol.
Estavámos acomodados em nossos bancos apertados, quando, de repente, surgiu do lado de fora um carro possivelmente paramilitar portando alguma arma com algum tipo de gás. Gente, não foi minha imaginação! Olhem só!


E quando, então, daquela bazuca saiu a fumaça, não tive dúvida! Eles queriam nos dopar!!!


Não posso lhes dizer mais nada. Caí em sono profundo. Acordei na cidade de Rômulo e Remo, gritando Morricone, cheguei! Ennio!!! E pulei saltitante do avião, levei um tombo, pra variar. Ele nem mora lá o Morricone.
O chinês professor nos esperava. Ufa! Pelo menos ele.
Nossa, com uniforme de Tai Chi? Bem, fomos nos apresentar.
Ele: Buona “sela”.
Nós: Hã?
Ele, sério: Buona “sela”
Nós: Ah, buona sera!
Ele, bravo: Non, buona “SELA”
Nós: Oh, ok, buona “sela”
Começávamos a nos entender.
Nosso professor chinês de italiano, quando ficava nervoso, curvava seus dedos, formando uma garra.
Eu tinha medo. Pensava: ainda vou apanhar desse cara...

Foto de nosso professor chinês de italiano que, nas horas vagas, trabalhava como gondoleiro em Veneza

Bem, malas no carro, chegada no hotel, prédio antigo, elevador idem, parecia o elevador do Largo do Café daqui de São Paulo.
Quarto. Descanso um pouco.
Pessoal, vou pular as histórias de visitas a museus, praças, lojas, restaurantes, e outros passeios afins. Ou vocês fazem mesmo questão de ver as mais de cinco mil fotos que tiramos de Roma?
Bem que eu tentei vê-las, admito, mas quando meu filho chegou em casa, me pegou dormindo no sofá e as fotos rodando na televisão... não vi absolutamente nada!
Ok, gente, preciso dormir, amanhã escrevo mais.
“ALIVEDELCI” (foi assim que meu professor chinês de italiano me ensinou...)