segunda-feira, 12 de abril de 2010

Arrigo

O que penso? Relacionamentos virtuais, hã hã, Internet?
Bem, nossas vidas ficaram tão devassadas, não? Pela cam vejo todos, eles me veem, gera-se certa intimidade por estarmos sozinhos, frente a frente, mas tudo fake.

[Ele entrou de paletó, com uma gravata extravagante (ou era a camisa?). As letras contundentes do compositor caíram como uma luva para sua voz rouca e rasgada. Piano e violão completavam o clima suburbano das canções.]

Por que fake?
Porque somos fingidores, representamos outros papéis: marginais bondosos, voyeurs, santos celestiais calientes, demônios em forma de anjos, mágicos transformistas, alquimistas medievais, prostitutos telepáticos, observadores contextuais, palhaços assassinos, animais enjaulados. Somos o que não somos durante o dia.

[Faltou-lhe a capa. Onde foi parar? Fiquei pensando enquanto cantava: será que ele anda pelas vielas escuras e estreitas de São Paulo? Ele é de Londrina, creio, mas é o sujeito mais paulistano que já conheci. Palmas, assobios, a casa de espetáculo — um pequeno e aconchegante bar — está lotada. Estou estirada num sofá, no mezanino, tomando uma taça de vinho. Humm, gostei.]

Se pode ser uma armadilha?
Ah, mas armadilhas são armadas em toda parte. Mas o que devemos questionar é por que queremos cair nessas armadilhas.

[Agora era eu que estava de capa. Não era bege como a dele, mas preta. Sou meio gótica, gosto do preto. Entrei no beco. Uma minguada luz teimava em querer iluminar o portão de uma casa velha e descascada. Andava olhando para meus pés. Gosto de vê-los caminhar. Na minha mão, uma moeda de um real. Brincava comigo mesma de cara ou coroa. Mas essa moeda não tem coroa. Tudo bem, tanto faz. Lembrei do Lira Paulistana. A moeda caiu de minha mão e rolou para dentro do bueiro. Foda-se.]

Se atitudes, hã hã, solitárias, contribuem, hã, busca?
Bem, não diria exatamente atitudes, porque este é um termo que expressa ação, não conformismo. Pessoas assim são determinadas e agem por motivação. Na internet, por outro lado, principalmente em sites de relacionamentos interpessoais, as pessoas desejam alentar seus estados de espírito dialogando com outras que possam lhes trazer alguma espécie de compensação, seja intelectual, emocional, ou mesmo para satisfação de suas necessidades mais básicas, como as sexuais, por exemplo.
Se isso é bom ou ruim?
Não acho que devamos polarizar a questão para um lado ou outro. Isso, é óbvio, vai depender sempre de cada internauta.
Obrigada, também fico agradecida por terem me convidado para debater esse assunto tão instigante. Boa noite.

[Virei a esquina, dei de cara com ele. Mesmo cabelo, porém um pouco grisalho, seu rosto afirmando que a fila andara e que o tempo passou.
Oi, tudo bem? Não me conhece, mas eu cantava naquele grupo etc.
Claro! Que legal, gostava muito!
Bem, só queria te dar um abraço, gostei do show e principalmente de conhecê-lo pessoalmente (gosto muito de você).
Voltei para casa a pé, meio sem graça... Bancando a tiete, besta...]

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