domingo, 4 de março de 2012

As "puembas" de lá

- O que têm elas?
- Ah, são diferentes... Orgulhosas, empinadas, vão chegando, não pedem, não, você tem que dar... uma migalha de seu pão, você arranca um pedacinho e joga para elas.
- E qual a diferença, sô?
- São mal agradecidas. Pegam e vão embora. Nem te agradecem.
- As daqui são iguaizinhas, fazem a mesma coisa.
- Não, são diferentes. As italianas estufam o peito pra você. Uma delas pousou na mesa em que estávamos, pensei até que ia cantar uma área de ópera...
- Ôxe...
- Mas ela só ficou girando, girando e saiu... Tenho uma teoria...
- Ihhhh...
- Essas pombas têm um futuro triste e pungente.
- Nossa e qual é?
- Elas viram patê de foie gras.
- Cê viajou...
- Juro!
- Quem vai notar a diferença? Matam as bichinhas, arrancam os "figo" e fazem o famoso patê de foie gras, só que "du colombe".
- Ah, tá bom...
- Quem vai notar???
-  Hum...
- Quando visitei o Castelo de Sant'Angelo, em Roma, veio até a mim um pássaro que me contou um pouco sobre a máfia das pombas na Itália.
- E sobre o patê de foie gras "du colombe".
- Claro! Você não acredita? Olha ele em cima do muro...
- Rsrsrsrs... com certeza esse não é um tucano!



- Ele me disse, discretamente - na verdade estava mesmo receoso, olhava o tempo todo para as laterais -, que havia uma máfia de compra e venda de fígado de pombos italianos, que valiam muito, pois os pombos de lá são bem nutridos. Afinal, milhares de turistas jogam migalhas de comida a esses bichos, assim como jogam milhões em moedas na Fontana di Trevi, deixando-os excessivamente obesos.
- Tadinhos...
- Ganham uma fortuna com a matança! Mas ninguém sabe dessa história... No final de nossa conversa, prometi sigilo, claro,  por isso não direi o nome de nosso amigo aqui da foto.
- Ah, sim, nem irei insistir. Mas me diga: você percebeu alguma coisa depois desse episódio?
- O quê? Em Veneza, fomos perseguidos! Bando de pássaros atrás da gente! Parecia o filme do Hitchcock...
- Que exagero...
- Ah, é? Olhe só... Os olheiros ficam em pontos estratégicos: nas estacas de madeira, estátuas, praças, enfim, pontos onde possam dar alguma coordenada. Foi o que aconteceu com a gente...




- Pássaros com olhares estranhos, matreiros, desconfiados, verdadeiros lobos do mar, sim, piratas venezianos... Dão o sinal assim que percebem o perigo.
- Que perigo? Quem? Vocês!?
- Quem mais? Sabíamos de toda história! E mais: como foi que surgiu o professor chinês de italiano nessa viagem? Do nada?
- Acho que sim... vocês precisavam de um professor, disseram que iam participar da maratona dos decrépitos em coordenação motora...
- Haha... Gracinha...
- Ele está envolvido nessa história da máfia também!
- Olha, eu não estou entendendo mais nada. Mas vocês foram atacados pelos pássaros hitchcockianos ou não?
- Sim e não. Olhe só:


- Entramos correndo no vaporetto, eles saíram atrás de nós gritando: o nome! Diga o nome! O nome!
Fingi não ouvir, fiquei apreciando a cidade. Estávamos, na verdade, um pouco assustados.
Os pássaros numa algazarra terrível nos perseguiram por um tempo quando de repente desapareceram. Então descobrimos a razão: vimos nosso professor chinês de italiano aos berros espantandos as aves!
- Nossa! O que ele dizia?
- Como vou saber? Mas um italiano que estava ao meu lado comentou estar ouvindo algo parecido com um dialeto siciliano, porém com os "erres" trocados por "eles". Ele achou uma pronúncia muito estranha...


- E o que é isso?
- Como o que é isso? O carregamento, pombas! Ops... Só pode ser o carregamento de foie gras "du colombe". Aquele de blusão vermelho é o nosso professor chinês de italiano, que espantou os pássaros para eles não ficarem traumatizados.
- Ah, que história besta! Vou dormir!
- Espere, você não quer saber o final da história?
- Não!!!
- Puxa...


Em tempo:
Bons shows no Auditório Ibirapuera: Orquestra Tipica Fernandez Fierro - os músicos e cantor são ótimos, há uma preocupação cênica na interpretação das canções, eles são divertidos, parecem saídos de uma história em quadrinhos. Gostei muito! E, neste último sábado, Celso Viáfora, com o Coral Expresso 25. O Celso é um compositor de grande sensibilidade, tenho grande admiração por ele. Queria tê-lo ouvido mais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário