quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O DITO PELO NÃO DITO


Primeiros minutos de sexta. Pensei em escrever durante o dia todo que passou, mas esqueci agora o que queria dizer. Vi transeuntes, senti calor, uma maldita corrente de ar frio que foge do aparelho de ar condicionado atinge minha cabeça e meu braço direito. Tenho frio de um lado só. Meu outro lado mantém a temperatura de meu corpo naquele ambiente laboral. Odeio esquecer o queria escrever, são tantos assuntos, quando venho para cá, esqueço tudo. Ele não ligou hoje, nem vai ligar nunca. Ele não liga para você, não liga para ninguém. Nem para ele mesmo. Também, pensando aqui comigo, ligar para quê? Para dizer oi?
− Oi!
− Oi...
− Tudo bem?
− Tudo...
− O que está fazendo agora?
− Dizendo “oi”.
− Ah, eu também. Gosto de dizer “oi” e você?
− Eu também. Digo “oi” sempre.
− Hehe... Eu sempre digo “oi”.
− Mesmo? Às vezes eu digo “olá”.
− Nossa, e não acontece nada com você?
− Geralmente, não. Mas tem gente que responde com um “oi”.
− Tome cuidado com esses: no fundo, eles queriam ter dito “olá”. Eles não são como nós.
− São meio abusados mesmos. Ah, olha só quem chegou... Oi!
− Oi!
− Oi!
− Oi.
− Tudo bem com vocês?
− Tudo.
− Viram quem estava aqui há pouco?
− Sim, dissemos “oi” para ele, mas nem respondeu.
− Afff, ele tem dado muito “olá” por aí, liga não.
− Problema dele.
− Oi?
− Eu disse problema dele!
− Oi?
− Ficou surdo?
− Oi?
− Ihhh... síndrome do sapo-boi... oi... oi...
− Bora?
− Oi?
− Bora?
− Oi?
− Ah, fui!
− Quem foi?
− Oi?
− Boi?
− Oi?
(eles se dispersam sem nada dizer...)

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