quarta-feira, 24 de abril de 2013

AMORES


Tenho vários amores. Bem, sim, vários, não, alguns, vai. São reais, mas permeiam meus devaneios de mulher, em certos momentos. Por vezes, caminhando pelas ruas do Centro, me pego sorrindo, por lembrar do que com eles passei. Amores diferentes entre si, tão lindos. Vieram eles de todas as direções!

O que veio das águas é na verdade um boto danado que me cobre de amores quando me vê. Se declara apaixonado, e por ser um boto cor de rosa, rendo-me a seus encantos seduzida por suas histórias de amor... Quantas prosas foram em uma noite apenas: falou-me do rio e de seus perigos, do mar e dos que lá habitam e das embarcações. Ai... Seu amor não me dará fruto, apenas a doce lembrança da calmaria que sucede após a tempestade.

O que veio da terra, juízo não lhe falta. Seus sonhos não vão muito além daquilo que construiu. Já montou um castelo bonito, que se desmoronou e lhe abateu. Hoje, é meu touro valente, que carrega um coração marcado pelas dores que o mundo lhe deu. Ai... como amo esse homem que me busca nas nuvens e me traz ao chão. Sussura em meu ouvido que vai me guiar e eu fecho os olhos com vontade de dizer: não, querido, só me leve a sonhar.

O que veio do fogo cospe labareda e se exalta sem razão. Esse dragão furioso parece criança contrariada que ficou de castigo por xingar uma tia. Estou para ver moleque mais terrível que esse! Reclama por estar ficando velho. Como pode? Nem adolesceu ainda...

O que veio do ar tem o dom da palavra. Um jeito manso, de contar causo, damos tanta risada... Sua vida é palco que recebeu dramas e comédias. Para ele, a vida continua a lhe oferecer tantas outras histórias, mas não sabe bem dizer se são para rir ou para chorar. Tanto faz. Com ele, minha alma se inunda de alegria e prazer.

Há, por fim, o que veio das estrelas. Mas não de uma estrelinha qualquer. Para falar a verdade, acho que ele veio mesmo é no rabo de um foguete, voando, para, num piscar de olhos, me amar e depois me sequestrar. Juntos, visitamos o universo colorido das emoções tão intensas, vibrantes, e quando estamos lá em cima, acenamos para a Terra que ficou para trás. Com ele, reconheço, é difícil pôr os pés no chão. É tão bom estar com ele, mas não.

Os amores de minha vida em minha imaginação sempre foram bem reais. Às vezes, na querência de ficar juntinho, vou buscá-los nas ondas do mar, no barulho das águas, nos moinhos de vento, nas labaredas da fogueira em noites frias de junho e nas estrelas cadentes que eu já vi olhando para o céu numa madrugada linda no interior de São Paulo quando tinha treze anos.

Lá estão eles, nas trilhas do meu coração.

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