Tenho
vários amores. Bem, sim, vários, não, alguns, vai. São reais, mas permeiam meus
devaneios de mulher, em certos momentos. Por vezes, caminhando pelas ruas do
Centro, me pego sorrindo, por lembrar do que com eles passei. Amores diferentes
entre si, tão lindos. Vieram eles de todas as direções!
O que veio
das águas é na verdade um boto danado que me cobre de amores quando me vê. Se
declara apaixonado, e por ser um boto cor de rosa, rendo-me a seus encantos
seduzida por suas histórias de amor... Quantas prosas foram em uma noite
apenas: falou-me do rio e de seus perigos, do mar e dos que lá habitam e das
embarcações. Ai... Seu amor não me dará fruto, apenas a doce lembrança da
calmaria que sucede após a tempestade.
O que veio
da terra, juízo não lhe falta. Seus sonhos não vão muito além daquilo que
construiu. Já montou um castelo bonito, que se desmoronou e lhe abateu. Hoje, é
meu touro valente, que carrega um coração marcado pelas dores que o mundo lhe
deu. Ai... como amo esse homem que me busca nas nuvens e me traz ao chão.
Sussura em meu ouvido que vai me guiar e eu fecho os olhos com vontade de
dizer: não, querido, só me leve a sonhar.
O que veio
do fogo cospe labareda e se exalta sem razão. Esse dragão furioso parece
criança contrariada que ficou de castigo por xingar uma tia. Estou para ver
moleque mais terrível que esse! Reclama por estar ficando velho. Como pode? Nem
adolesceu ainda...
O que veio
do ar tem o dom da palavra. Um jeito manso, de contar causo, damos tanta
risada... Sua vida é palco que recebeu dramas e comédias. Para ele, a vida
continua a lhe oferecer tantas outras histórias, mas não sabe bem dizer se são para rir ou para chorar. Tanto faz. Com ele, minha alma se inunda de alegria e
prazer.
Há, por
fim, o que veio das estrelas. Mas não de uma estrelinha qualquer. Para falar a
verdade, acho que ele veio mesmo é no rabo de um foguete, voando, para, num
piscar de olhos, me amar e depois me sequestrar. Juntos, visitamos o universo
colorido das emoções tão intensas, vibrantes, e quando estamos lá em cima,
acenamos para a Terra que ficou para trás. Com ele, reconheço, é difícil pôr os
pés no chão. É tão bom estar com ele, mas não.
Os amores
de minha vida em minha imaginação sempre foram bem reais. Às vezes, na
querência de ficar juntinho, vou buscá-los nas ondas do mar, no barulho das
águas, nos moinhos de vento, nas labaredas da fogueira em noites frias de junho
e nas estrelas cadentes que eu já vi olhando para o céu numa madrugada linda no
interior de São Paulo quando tinha treze anos.
Lá estão
eles, nas trilhas do meu coração.
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